A “desinauguração” da rodoviária que ainda não aconteceu (e nem deve acontecer)

Movimentação

Os dias entre o Natal e o Ano Novo foram bem movimentados na política rondoniense. O ex-prefeito Hildon Chaves, insistentemente, queria inaugurar a rodoviária de Porto Velho. Mesmo com diversos pareceres contrários à liberação do prédio, incluindo os próprios engenheiros da prefeitura. A data teve diversas mudanças e para tristeza de Chaves, uma liminar proibiu a “festança”.

Último suspiro

E nos acréscimos do 2º tempo, às 17:30 do dia 30 de dezembro, um sopro de esperança: o desembargador Daniel Ribeiro Lagos deu uma “mãozinha” para Hildon: cassou a decisão em primeiro grau e deu a inauguração que o político tanto queria. Não importou se havia laudos de diversas entidades não recomendando a inauguração. O negócio era colocar a placa com o nome do ex-promotor de Justiça na parede da rodoviária nova, mas não concluída.

Estranho

Citei no parágrafo acima, mas não custa repetir: engenheiros da própria prefeitura (Comissão de Fiscalização de Obras Públicas), laudo do Conselho Regional de Engenharia e Arquitetura (CREA) e do Tribunal de Contas do Estado (TCE/RO) não recomendaram a inauguração da estrutura, onde faltaram coisas básicas. E a Justiça entendeu tudo. Porém, o nobre desembargador Daniel Ribeiro Lagos parece que ficou “fora da curva” (por estar acima do 1º grau) e pensou diferente. 

Só um

Em sua decisão polêmica, Lagos citou que o laudo do Corpo de Bombeiros já era suficiente para que a inauguração acontecesse: “Há também laudo técnico do Corpo de bombeiros do qual, afirma o perfeito estado para utilização do prédio (Id. n. 115345384- autos- de origem: ‘O Sistema de prevenção de combate a incêndio e pânico, especialmente às condições de escoamento das pessoas em situação de pânico, suas respectivas saídas de emergência e rota acessível e as instalações de equipamentos previstos no projeto de prevenção e combate a incêndio, foi projetado e executado conforme a legislação em vigor e às normas vigentes e encontram-se em perfeito estado de utilização sem nenhuma restrição’”.

Foi lá

O desembargador dá a entender que também foi ao local onde está construído o novo terminal de embarque e desembarque de ônibus: “Ademais, tomei a cautela em realizar a vistoria, no qual, demonstra ter total capacidade para realizar o transporte de ônibus interestadual e municipal, não sendo problema, os pequenos detalhes inacabados atrapalharem o pleno funcionamento da Rodoviária” [grifo nosso].

Sem confusão

E o magistrado reforçou que não queria entrar em confusão: “Quanto a lei municipal n° 2624/2019 que tem o seguinte comando para o administrador público no município de Porto Velho: ‘Ficam proibidas as inaugurações e as entregas de obras públicas inacabadas ou que não estejam condições de atender os fins a que se destinam’. Observa-se que a Rodoviária está apta a atender o fim para que foi realizada, não podendo o Poder Judiciário, entrar na área política”.

Fora da realidade

Pois bem, horas depois da “inauguração” da rodoviária, um parente meu vindo de Rio Branco (AC) constatou o caos em que estava o local. Ele disse que o motorista não sabia qual o portão de entrada do ônibus. Ao desembarcar, muita sujeira, como restos de construção e alguns tapumes que ainda estavam de pé, além da escuridão. “Uma bagunça total”, resumiu bem ele.

Politicagem

Um certo “influenciador digital”, que antigamente vivia criticando a administração municipal e “de repente”, virou amigo de Hildon, Ieda Chaves e companhia, acompanhou a organização da possível inauguração. Flagrou a deputada estadual e esposa do prefeito pintando uma parede. Mais um pouco à frente, a ex-deputada federal e recém-derrotada às eleições da capital, Mariana Carvalho, limpando catracas. Tudo pra encher a bola da turma, garantir fotos e vídeos, de “muito trabalho realizado” até então. 

Polêmica 2

No dia 01 de janeiro, o novo prefeito Léo Moraes teria dito a pessoas próximas e até a vereadores, que iria “desinaugurar” a rodoviária, devido à precariedade das instalações do novo prédio, inacabado. A medida iria agradar alguns e desagradar muitos outros. Mas, Léo ficou só na “ameaça”. Por enquanto, os ônibus continuam chegando e saindo da Avenida Jorge Teixeira.

Opinião 1

Dos males, o menor. A população está entre a cruz e a espada. O terminal provisório é horrível, com hordas de “noiados” na vizinhança, sujeira e imundície nos banheiros. Com muito calor e desconforto, ainda era uma opção razoável por estar localizado no Centro da cidade. Era uma bagunça “organizada”, com boa oferta de táxis, carros de aplicativo e mototáxis. 

Opinião 2

O novo terminal tem design muito bonito, porém, conforme já constatado, ainda falta ser concluído. E se uma barra de ferro cai na cabeça de alguém? Quem será responsabilizado, nobre desembargador Daniel Lagos? O Corpo de Bombeiros, que foi O ÚNICO ÓRGÃO PÚBLICO que deu aval para a inauguração? O senhor vai fazer uma visita no hospital (público) caso haja paciente, assim como disse ter ido à rodoviária? 

Opinião 3

Como em política, muitas vezes há muito falatório e as ações demoram (ou muitas vezes nem acontecem), pelo jeito, o carro vai andar com o pneu sendo trocado. Ou seja: a nova rodoviária só vai ficar pronta totalmente em 3 ou 4 meses, como apontou a empresa construtora, com os passageiros embarcando e desembarcando no local mesmo. Seja o que Deus quiser e que Ele proteja a todos!

Está lá

Mesmo a coluna ter alertado que a logomarca do Governo Federal ficou “escondida” na placa da obra da rodoviária, o primeiro nome que consta na lista de autoridades responsáveis pelo novo terminal de passageiros é o do presidente Luís Inácio Lula da Silva (PT). Apesar de terem errado sistematicamente em ocultar a marca da União em grandes obras em Porto Velho, pelo menos nesta, foi dado o crédito de forma correta.

Companheiros

Apesar das listas falsas, que chegaram a circular com força às vésperas da posse, Léo Moraes surpreendeu várias pessoas ao anunciar alguns nomes. Alguns deles eram “marianistas” de primeira hora. Fizeram campanha total para a ex-vereadora e ex-deputada federal, mas conseguiram cavar um espaço na nova administração. Nos próximos três tópicos, vou elencar as minhas surpresas.

Surpresa 

A primeira delas foi o advogado e ex-candidato à prefeitura e ao Governo do Estado, Vinícius Miguel (PSB). Ele tem forte presença e engajamento como advogado que atua em defesa dos direitos da Criança e Adolescente.

Surpresa 2

Resta saber como vai se comportar à frente da Secretaria Municipal de Meio Ambiente (SEMA), que conta com ótimas ações na causa animal, especialmente com oferta de castrações grátis de cães e gatos à população. Não sei se Vinícius tem especialização no meio ambiente, mas não tenho dúvidas de que vai se cercar de todas as informações possíveis e bons profissionais para manter o funcionamento adequado da instituição.

Surpresa 3

A segunda surpresa, na minha opinião, foi o ex-vereador e aliado de primeira hora de Mariana Carvalho, o professor Aleks Palitot. Com atuação destacada na defesa do patrimônio histórico rondoniense, Palitot vai comandar a Secretaria Municipal de Desenvolvimento Econômico e Turismo (Semdestur). É uma boa oportunidade de ver como ele vai se comportar como gestor de recursos públicos, após dois mandatos como fiscal no Legislativo municipal.

Expectativa

A exceção da antecipação de nome do secretariado e dos cargos mais importantes ficou para o superintendente municipal de Comunicação (SMC), Paulo Afonso. Ele atuou em uma fábrica de refrigerantes e estava em um grupo empresarial que tem de concessionárias de carros à produção de energia solar. A coluna vai ficar de olho no seu trabalho, já que o Poder Público é bem diferente da iniciativa privada. 

Expectativa 2

Além da lentidão e burocracia do serviço público, o novo superintendente terá que lidar com donos de sites de notícias, que estão sempre ávidos por mais recursos de mídia pública, especialmente aqueles que são bastante acessados e que recebem bem menos que emissoras de televisão, rádio e até jornais impressos. 

Expectativa 3

Alguns deles não utilizam de práticas tão republicanas assim e não devem dar folga para os deslizes que o prefeito e sua equipe devem cometer nos primeiros 100 dias de trabalho. Vale a máxima: “a melhor defesa é o ataque”, então preparem as suas canelas e cabeças! 

Por Felipe Corona - interino